Setembro Amarelo é uma campanha criada com o objetivo de conscientizar sobre a prevenção do suicídio.
No Brasil, a campanha foi criada em 2015, por meio de uma parceria entre a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, o Conselho Federal de Medicina – CFM e o Centro de Valorização da Vida – CVV.
Por meio das ações de conscientização, a intenção é incentivar as pessoas para que falem sobre o que estão sentindo e peçam ajuda.
Além disso, a iniciativa também visa esclarecer a população sobre as causas que podem levar uma pessoa a pôr fim em sua própria vida.
Dessa forma, pretende-se criar uma rede de acolhimento humanitário para eliminar, ou pelo menos reduzir, os índices alarmantes do cometimento de suicídio no Brasil.
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Nem o mês nem a cor foram escolhidos por acaso.
Ambos estão relacionados à história trágica do jovem americano Mike Emme, de 17 anos, que cometeu suicídio no dia 08 de setembro de 1994.
Um fato muito triste que chocou seus familiares e amigos, que o enxergavam como uma pessoa engraçada, habilidosa, entusiasmada com a vida. Ninguém conseguiu perceber que ele precisava de ajuda.
Mike havia comprado um Mustang 68 e trabalhou sem parar para restaurá-lo. No final, pintou o carro de amarelo. Ele era apaixonado pelo automóvel, sendo este o local que escolheu para pôr fim à sua vida, com um tiro.
Diante da tragédia, seus parentes e amigos decidiram se unir e mobilizar a comunidade e, no dia do seu velório, distribuíram cartões decorados com fitas amarelas (mesma cor do seu Mustang).
Nos cartões, uma mensagem simples, marcante e revolucionária: “Se você precisar, peça ajuda.”
Essa iniciativa deu início a uma importante movimentação de prevenção ao suicídio, pois a história do jovem Mike chegou às mãos de quem realmente precisava de apoio.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a 3ª maior causa de morte no mundo entre os jovens de 15 a 29 anos.
Somente no Brasil, 32 pessoas tiram suas próprias vidas diariamente, também de acordo com a OMS. Isso significa que, infelizmente, o suicídio está tirando mais vidas de brasileiros do que doenças como a AIDS e o câncer.
Com isso, o país está entre as 14 nações com índices crescentes em casos de suicídio. A situação é preocupante, exige e merece a atenção das autoridades e da sociedade, que podem atuar, em um esforço conjunto, para interromper essa grave crise de saúde mental.
Às autoridades públicas cabe criar mecanismos e oferecer meios para amparar e apoiar as pessoas, para que consigam pedir ajuda.
Isso principalmente porque, de acordo com a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS), Mayra Pinheiro, existe um consenso de que, nos últimos 12 meses que antecedem o suicídio, as pessoas procuram por atendimento médico.
Tal fato reforça a necessidade de toda a estrutura de atendimento, sobretudo os profissionais da saúde, estarem atentos e capacitados para prestar a assistência adequada.
O governo tem atuado para combater os crescentes casos de suicídio no Brasil por meio de políticas públicas.
Uma delas é a Lei Federal nº 13.819/2019, de abril de 2019, apelidada de “Lei Vovó Rose”.
A lei tem esse nome em homenagem à Rosangela Reis, que perdeu uma neta para o suicídio e decidiu, a partir da sua tragédia, conscientizar outras famílias para evitar que isso se repetisse.
Diante disso, a lei, que instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, prevê que casos de tentativas de suicídio e automutilação sejam notificados.
Tal notificação deve ter caráter sigiloso e deve ser respeitada por:
Além disso, o Ministério da Saúde lançou o curso de capacitação para os profissionais do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
A intenção é preparar estes profissionais para buscarem identificar nos pacientes sintomas com traços de desordem emocional e mental, como por exemplo:
Dessa forma, a ideia é promover um atendimento humanizado e terapêutico para acolher o paciente que esteja apresentando algum desses sintomas da melhor forma possível.
Desde o ano 2015, o governo federal conta com o apoio e força de trabalho de entidades civis e estatais na luta contra o suicídio.
Dessa forma, com apoio mútuo, com ações de conscientização e mobilização social, espera-se despertar a sociedade para que, cada vez mais, vidas sejam salvas.
Exemplo disso é o CVV (Centro de Valorização da Vida), que disponibiliza canais de atendimento 24 horas, todos os dias, para dar suporte a quem precisa.
A ONG foi fundada em 1962 para apoiar emocionalmente pessoas que estão passando por um momento difícil e desejam conversar, conduzindo-as de forma a fazer com que escolham pela vida.
Para isso, seus voluntários escutam os desabafos e conversam com essas pessoas de forma sigilosa e sem pré-julgamentos.
Afinal, segundo especialistas em saúde mental, existem três atitudes que qualquer pessoa pode ter para ajudar a prevenir um suicídio, que são:
Esses gestos simples de carinho e cuidado podem ser um bálsamo para quem está passando por esse drama.
Além disso, os canais de atendimento que o CVV oferece são gratuitos e funcionam com a ajuda de voluntários comprometidos com a nobre missão de ajudar a salvar vidas.
Para recorrer a esse serviço, basta fazer contato por:
Conforme relata a psiquiatra e escritora, Dra. Ana Beatriz Barbosa, falar sobre o suicídio é uma questão urgente.
Haja vista que o simples ato de falar ajuda a evitar que cerca de 90% dos casos cheguem às vias de fato.
Justamente por isso, a médica ainda reforça que o CVV tem um papel primordial na sociedade e tem ajudado a salvar muitas vidas, visto que conta com o serviço voluntário de pessoas treinadas e capacitadas para atender quem está em situação de crise e sofrimento.
A profissional ainda alega que 15 minutos de conversa é tempo suficiente para que o impulso do suicídio passe e a pessoa desista de praticar o ato.
Além disso, ela também explica que o suicídio sempre é um ato de desespero, seja cometido por impulso, seja de forma premeditada, sendo que o objetivo é eliminar o sofrimento e a dor, e não necessariamente tirar a própria vida.
Então, o ato de falar tem um efeito terapêutico para quem enfrenta o problema, além de tornar o tema um assunto de utilidade pública.
Isso é especialmente válido se considerarmos que os dados demonstram que os números de casos crescem em várias partes do mundo, o que, por sua vez, reflete um mau funcionamento da nossa sociedade.
Por isso, a psiquiatra provoca a sociedade para refletir e buscar a origem desse mal que acomete tantas pessoas, principalmente os jovens. Ela indaga: “De que forma a sociedade pode ajudar para evitar que novos casos surjam?”.
Fica a reflexão.
Em continuidade às falas da Dra. Ana Beatriz sobre o suicídio, para ela, é preciso quebrar o tabu e buscar ajuda.
Afinal, hoje em dia já é possível identificar os traços e sinais que uma pessoa com tendência suicida apresenta.
Dessa forma, fica mais fácil para familiares e cuidadores em geral identificarem o momento de intervir e ajudar alguém a superar a crise.
Além disso, a própria pessoa consegue assimilar os seus sintomas e se identificar com os casos que costumam ser noticiados pelas mídias, sobretudo quando há a superação do problema, levando a pessoa a perceber que é possível vencer aqueles sentimentos ruins e que, muitas vezes, ela não é a única que enfrenta aquele tipo de situação.
Então, por meio da promoção do conhecimento de forma massiva, mais e mais pessoas terão contato com essa realidade.
A partir disso, e com a informação necessária, as pessoas terão mais propensão para procurar por ajuda e resgatar sua saúde mental e emocional.
Além disso, a população em geral pode se atentar mais às condições emocionais das pessoas de seu convívio. De acordo com a comunidade médica, existem a alguns perfis que são mais propensos a desenvolver pensamentos suicidas.
Veja os dados que a Dra. Ana Beatriz compartilhou:
O Setembro Amarelo é, por fim, uma iniciativa em escala global, cujo objetivo é combater e prevenir o suicídio. E a principal mensagem que fica é: Fale. Não tenha medo. Não sinta vergonha. Busque ajuda.